Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Televisão

Após best-seller e filme, 'Um Dia' ganha sua versão mais cativante em série

Versão nostálgica e atual da obra de David Nicholls para a Netflix amplia as dimensões de Emma e Dexter

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Uma mulher de feições indiana e cabelos cacheados pelos ombros e um homem loiro de olhos azuis, ambos jovens, estão deitados em uma cama lado a lado; ela usa uma camiseta preta e tem os olhos fechados, e ele está sem camisa e com olhar pensativo

Ambika Mod e Leo Woodall como Emma em Dexter na adaptação para a Netflix do best-seller "Um Dia", de David Nicholls Ludovic Robert/Netflix

Algumas coisas parecem destino, inevitáveis. É o caso de "Um Dia", o best-seller do britânico David Nicholls lançado em 2009. Sucesso estrondoso, foi transformado em filme em 2011, espezinhado pela crítica e pelo próprio autor —que, vejam só, assinara o roteiro da produção estrelada por Anne Hathaway e Jim Sturgess.

Tudo errado. "Um Dia" nasceu para ser série. Seu enredo, que acompanha as idas e vindas de um par de amigos ao longo de 20 anos, encaixa naturalmente no formato de episódios. Mas como fazer?

Nicholls ficara desgostoso com o resultado da empreitada anterior; os fãs que tinham a idade dos protagonistas nos anos 1990 entraram naquela fase da vida em que o cinismo impera, e a faixa etária alvo de comédias românticas hoje estranharia aquelas cenas com telefone discado, fitas cassete e, sobretudo, desencontros. Não existem desencontros na era de Tinder, Instagram, Facebook e localizadores.

O destino, porém, prevaleceu. "Um Dia" estreou no mês passado na Netflix, como minissérie de 14 episódios curtos, e é uma das coisas mais deliciosas do streaming nos últimos anos. Palavra de alguém que torce o nariz para comédias românticas.

Assim como o livro, a série é mais do que isso. Transborda numa história sobre escolhas, sobre como decidimos viver cada momento, como a vida nos traz e nos toma pessoas, e como esses fragmentos não são necessariamente piores ou melhores uns que os outros, mas seu conjunto forma as lembranças e aspirações que nos sustentam.

Emma e Dexter se conhecem na festa de formatura em uma universidade escocesa (ela classe média-baixa, e ele, rico; ela tímida, e ele, esfuziante; ela estudiosa, e ele, pegador) e passam a noite juntos. Seria apenas o enésimo moça-encontra-rapaz se, a cada fragmento desse relacionamento, Nicholls e Nicole Taylor, criadora da série, não abrissem uma janela para outros aspectos da vida do par conforme ele amadurece.

Os primeiros empregos. A dificuldade em se firmar ou em segurar as conquistas. Os amigos que viram adultos antes da gente. O ocaso dos pais. Os perrengues de dinheiro e moradia. Outros pares, contas, viagens, demissões, ascensões, filhos, surpresas.

A falha do filme foi se conformar em tangenciar tudo isso, dificultando o vínculo com os personagens ou o entendimento das múltiplas dimensões de sua relação (não, pessoal, Emma não passou 20 anos esperando por Dexter —a vida vai e vem, e há coisas que se alinham em diferentes ritmos de translação).

Isso não acontece com a série, que nos dá tempo com os dois e nos permite entender o que encanta cada um deles, no outro e no mundo. Leo Woodall, o Jack de "White Lotus" 2, dá a Dexter uma vitalidade e um magnetismo inexistentes na versão de Surgass, e a escolha de Ambika Mod, uma atriz britânica de ascendência indiana ainda sem papéis retumbantes, se prova crucial.

Sua Em tem uma insegurança palpável e crível, que se serve da questão étnica não como mero agrado ao público ávido por representatividade nas telas, mas como elemento dramático, ainda que pouco mencionada. Diferente da Em de Hathaway, que dispara tiradas sarcásticas e pouco se permite entrever, Mod mistura ao humor ferino algo de melancolia e de força ante o Dex vulnerável de Woodall.

E talvez porque Taylor se identifique com Emma, como ela disse em entrevista ao New York Times, a personagem cresce na série como cresce na vida de Dexter, embora ela sempre tenha estado lá.

Na trilha sonora, as canções forçosamente tristes do filme dão lugar ao brit pop e eletrônico dos anos 1990 e 2000, infundindo na série uma nostalgia de otimismo e possibilidades. É, afinal, uma ode às amizades longas, que nos atravessam e renascem.

Pouco muda o enredo. Mas o tempo extra, que é o motor de "Um Dia", muda tudo.

Os 14 episódios de "Um Dia" estão disponíveis na Netflix

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